COLUNA GUILLERMO PIERNES
por GUILLERMO PIERNES
Os apaixonados pelo golfe de tempo em tempo acordam para a dádiva que significa esse esporte para suas vidas.
Recentemente circulou nas redes sociais um lindo artigo sobre os benefícios do levar os filhos para o golfe. Vamos deixar os filhos de lado, por enquanto.
Primeiro, como praticantes, repassemos as lições sutis ou contundentes do golfe que frequentemente ignoramos. Depois, sim, com nos mesmos melhorados, vamos contribuir positivamente para filhos, esposas, amigos, companheiros e outros seres próximos.
O golfe ensina e prepara as pessoas a desenvolver perseverança, equilíbrio emocional, concentração, estratégia e humildade.
As pessoas são melhores se praticam golfe do que seriam sem praticar este esporte.
O autor adverte: O golfe não faz milagres e assim o bruto ficará menos ignorante, porem nunca chegará a ser um cavalheiro. Os homens e mulheres com pouca paciência vão melhorar, porem nunca chegarão a se comparar monges budistas, nem que passem o dia batendo bolas no driving range ou jogando no campo.
O golfista melhora o equilíbrio emocional porque se acostuma a lidar com frustração, já que somente oito por cento das tacadas são satisfatórias, em todo nível, desde o pior jogador do clube aos fenômenos dos Masters. Frustração é um dos obstáculos mais comuns no percurso do golfe ou da vida.
Os grandes jogadores sabem lidar com gigantescas frustrações e seguir adiante. Talvez esse seja o maior segredo da sua grandeza.
Temos uma lista de grandes astros do golfe que em grandes torneios sofreram desastres como dar mais de dez tacadas num par três, jogar bola na água varias vezes no mesmo buraco, errar putts praticamente dados, shanks, airshots.
Ninguém escapou nem escapa. È um esporte ao mesmo tempo, cruel e maravilhoso.
Mais esses homens com talentos, habilidades e conhecimentos notáveis lidam com o ilógico, irracional e incontrolável do golfe. Aí está o grande desafio. Quando a bolinha pequena pisoteia o ego ao negar-se a entrar no buraco num putt de 10 centímetros, ou quando o vento a empurra fora dos limites do campo ou um lago após uma boa tacada.
Em geral, o golfe é praticado por pessoas educadas, preparadas, esclarecidas e inteligentes. Porem essa pequena bola nos frequentemente nos humilha, faz rir, chorar, gritar, pronunciar impropriedades.
Esse esporte nos desespera, angústia, leva-nos ao êxtase, ao delírio. O golfe mexe com todos os sentidos e cordas emocionais.
O jogador que chega ao pódio não somente mostrou no torneio a melhor técnica, mais na ocasião conseguiu voar mais nas assas dessas vibrações emocionais.
Assim acontece como a boa música, a poesia ou a paixão. Com o golfe ficamos mais atentos e sensíveis para as notas, palavras, corte da grama, ondulação do terreno, direção e intensidade do vento. O golfe é reservado apenas para os amantes da poesia da vida.
Pelo anteriormente explicado, o golfe não é para todos. Uma paixão intensa pode ser vivida por todos? Não. Requer uma dose de insensatez que não é para todos. Somente para os tocados pela varinha mágica. Mais precisamente pelos que tocaram o mágico taco de golfe.
O golfe está próximo de um exercício radical de meditação, de integridade, de perseverança, humildade e foco. Sem entrar na parte financeira, a pergunta é se é maioria está disposta a encarar essa prova na prática de um jogo, que o presidente Bill Clinton definiu como “o jogo da vida”.
Confesso que sofri muito com o golfe. Escrevi o meu último livro tentando tirar frutos das suas duras lições: Liderança e Golfe. Passei a dar palestras corporativas para passar os ensinamentos.
Entre os muitos ensinamentos, uma óbvia constatação: Para lidar com golfe e outras paixões é necessário muito foco e paciência. Ao desenvolver essas virtudes, crescemos como pessoas, como profissionais, executivos ou empresários.
A paciência necessária para jogar golfe é um grande atributo que rende dividendos até para ouvir reclamações domésticas após passar o dia jogando e até a noite revivendo as emoções no buraco 19 com os amigos do golfe.
Nesses amigos do golfe sempre há mais virtudes que os defeitos enumerados nessas situações de tensão, porem é aconselhável guardar paciente silencio até passar a tormenta.
O golfe nos ensina a admitir a responsabilidade pelas nossas falhas. Estas falhas são raramente provocadas pelo movimento de outra pessoa na hora da tacada, pela grama, por algum barulho, pelo peso da bola ou fabricação do taco, como alguns tentam aplicar. É preciso encarar a verdade dos fatos para corrigir e fazer que a próxima tacada seja boa.
Os jogadores de golfe somos treinados a respeitar as regras e sermos honestos na aplicação delas. Os campeões no golfe são realmente campeões por vencerem sem usar drogas, jogo sujo, o favorecimento de juízes.
Quantos esportes podem repetir isso? Se todos os habitantes do Planeta jogássemos golfe acredito que o mundo seria um pouco melhor porque teríamos mais treino para lidar com a verdade.
* Artigo publicado originalmente na Revista Golf & Turismo. Também no site literário guillermopiernes.com.br que publica varias crónicas com golfe.
** Foto dos ex-presidentes americanos Barak Obama e Bill Clinton (agencia Reuters)